Quais os indicadores urbanísticos que devem ser selecionados para se averiguar a cidade de baixo carbono?
Esta pesquisa tem como um de seus objetivos a busca de respostas para esta questão.
Inicialmente, parte-se de um inventário dos indicadores já propostos por organismos internacionais e nacionais. Esta página é dedicada a este levantamento.
INDICADORES DA AGENDA HABITAT
Os
indicadores da Agenda Habitat são compostos de:
- 20 indicadores-chave - importantes para a política e relativamente fáceis de coletar. Eles são números, porcentagens e proporções;
- 9 são indicadores check-lists - que dão uma avaliação de áreas que não podem ser facilmente medidas quantitativamente. São questões de auditoria, geralmente acompanhadas de questões qualitativas, com resposta “sim” ou “não”;
- 13 indicadores extensivos - que se destinam a complementar os resultados dos indicadores-chave e indicadores check-lists, a fim de fazer uma avaliação mais aprofundada da questão.
Dessa forma, os indicadores da Agenda Habitat são estes:
1. Habitação.
Meta 1 - promover o direito à moradia adequada:
- Indicadores-chave: estruturas duráveis; superlotação;
- Indicador check-list: direito à moradia adequada;
- Indicador extensivo: o preço da habitação em relação à renda.
Meta 2 - proporcionar segurança:
- Indicador chave: regularização fundiária;
- indicadores extensivos: habitação autorizada; despejos.
Meta 3 - proporcionar igualdade de acesso ao crédito:
- Indicador check-list: financiamento habitacional.
Meta 4 - proporcionar o acesso igual à terra:
- Indicador extensivo: preço da terra em relação à renda.
Meta 5:
promover o acesso a serviços básicos:
- Indicador-chave: acesso à água potável; acesso a saneamento básico; ligação a serviços.
2. Desenvolvimento social e a erradicação
da pobreza.
Meta 6 - proporcionar a igualdade de oportunidades para uma vida segura e saudável.
- Indicadores-chave: mortalidade de menores de cinco; homicídios;
- Indicador chek-list: a violência urbana;
- Indicador extensivo: a prevalência do HIV.
Meta 7 - promover a integração social e apoiar os grupos desfavorecidos:
- Indicador-chave: as famílias pobres.
Meta 8 - promover a igualdade no desenvolvimento dos assentamentos humanos:
- Indicador-chave: taxas de alfabetização;
- Indicador chek-list: matrícula escolar;
- Indicadores extensivos: número de vereadoras; inclusão de gênero.
3. Planejamento ambiental.
Meta 9 - promover a resolução de estruturas geograficamente equilibrada:
- Indicadores-chave: crescimento da população urbana; assentamentos planejados.
Meta 10 - gerenciar oferta e demanda de água de uma forma eficaz:
- Indicador-chave: preço da água;
- Indicador extensivo: o consumo de água.
Meta 11 - reduzir
a poluição urbana:
- Indicador-chave: águas residuais tratadas; eliminação de resíduos sólidos;
- Indicador extensivo: coleta de resíduos sólidos.
Meta 12 - prevenir as catástrofes e reconstruir assentamentos:
- Indicador chek-list: casas em locais perigosos;
- Indicador extensivo: instrumentos de prevenção e mitigação de desastres.
Meta 13 - promover sistemas de transporte eficiente e ambientalmente saudável:
- Indicador-chave: tempo de viagem;
- Indicador extensivo: modos de transporte.
Meta 14 - os
mecanismos de apoio para preparar e implementar planos locais de meio ambiente
e iniciativas da Agenda 21 local:
- Indicador chek-list: planos locais ambientais.
4. Desenvolvimento econômico.
Meta 15 - fortalecer as micro e pequenas empresas, particularmente aquelas desenvolvidas
por mulheres:
- Indicador chave: o emprego informal.
Meta 16 - incentivar a parceria público-privada do setor e estimular oportunidades de
emprego produtivo:
- Indicador-chave: produto cidade; o desemprego.
5. Governança:
Meta 17 - promover a descentralização e reforçar as autoridades locais:
- Indicador-chave: a receita do governo local;
- Indicador chek-list: a descentralização.
Meta 18 - promover e apoiar o envolvimento e a participação cívica:
- Indicador chek-list: a participação dos eleitores;
- Indicadores extensivos: associações cívicas; participação dos cidadãos.
Meta 19:
garantir a governança transparente, responsável e eficiente de vilas, cidades e
áreas metropolitanas:
- Indicador chek-list: a transparência e a responsabilização.
METODOLOGIA GEO CIDADES
O projeto GEO
Cidades, do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), produz desde 1995 de forma
periódica, informações sobre o estado do meio ambiente em nível global,
regional, subregional, nacional e local.
A metodologia
GEO Cidades trata da análise da interação entre o desenvolvimento urbano e o
meio ambiente, avaliada com o uso da matriz
Pressão – Estado – Impacto -
Resposta (PEIR).
Assim, os
relatórios GEO Cidades são formulados também com o objetivo de aferir o
impacto da urbanização sobre o meio ambiente, especialmente sobre os recursos
naturais e os ecossistemas locais. Os seus componentes remetem a uma concatenação
lógica de questões básicas, onde:
- o estado se refere ao que está acontecendo com o meio ambiente;
- a pressão é relacionada ao por que o estado do meio ambiente se encontra em sua forma atual;
- o impacto responde as consequências da pressão sobre o estado do meio ambiente;
- a resposta remete ao que está acontecendo, em termos de ações, em relação ao impacto da pressão sobre o estado do meio ambiente.
Há também um
fator diacrônico nesta análise, que é o do cenário futuro, uma ferramenta que
permite a análise do estado do meio ambiente, em médio e longo prazo, de acordo
com o tipo de resposta a ser tomado pela sociedade. Consideram-se respostas que
surtiram efeito, a inexistência das mesmas ou a sua insuficiência. O uso desta
ferramenta emergiu no sentido de conscientizar o tomador de decisão em relação
às consequências de suas ações.
Foram instituídos 8 indicadores de estado, 14 indicadores de pressão, 16 indicadores de
impacto e 15 indicadores de resposta, constituindo um total de 53 indicadores.
Os
indicadores são classificados em cinco diferentes categorias de recurso: água, ar,
solo, biodiversidade, meio ambiente construído.
O mesmo
indicador pode ser comum a mais do que uma categoria, ou seja, pode estar
relacionado diretamente ao recurso, água, ar, solo e outros simultaneamente,
por exemplo. Os indicadores também são relacionados a cada fator pelo qual
mantém uma relação direta. Dessa forma, os
mesmos vinculam-se aos fatores: dinâmica demográfica, ocupação do território,
desigualdade social e outros.
A “cesta
básica” de indicadores da metodologia GEO Cidades é constituída por:
Indicadores de Pressão:
- crescimento populacional (comum a todos os recursos);
- índice de GINI da desigualdade de renda (comum a todos os recursos);
- mudança de solo não urbano para urbano (comum a todos os recursos);
- área e população dos assentamentos urbanos formais e informais (comum aos recursos solo, água, biodiversidade; redução da cobertura vegetal (comum aos recursos biodiversidade, solo, água);
- distribuição modal (comum aos recursos solo, ar, meio ambiente construído);
- taxa de motorização (comum aos recursos solo, ar, meio ambiente construído); consumo anual de energia, per capita (recurso ar);
- consumo de água (recurso água);
- produção de resíduos sólidos (comum aos recursos solo e água);
- disposição de resíduos sólidos (comum aos recursos solo e água); volume total de águas residuais domésticas não tratadas (comum aos recursos água e biodiversidade);
- emissões atmosféricas (recurso ar); emissão de gases produtores de chuva ácida (ar);
Indicadores de Estado:
- escassez de água (recurso água);
- qualidade de água de abastecimento (recurso água);
- sítios contaminados (comum aos recursos solo e água;
- cobertura vegetal (comuns aos recursos biodiversidade, solo, água, ar);
- espécies extintas ou ameaçadas/espécies conhecidas (recurso biodiversidade);
- porcentagem de áreas (centros históricos ou edificações) deterioradas em relação à área urbana construída (comum aos recursos meio ambiente construído e solo);
- porcentagem de áreas de instabilidade geológica (recurso solo); qualidade do ar (recurso ar);
- perda de biodiversidade (recurso biodiversidade);
- incidência de enfermidades de veiculação hídrica (recurso água);
- incidência de enfermidades cárdio-respiratórias (recurso água);
- incidência de enfermidade por intoxicação e contaminação (recurso solo);
- alteração do microclima (recurso biodiversidade);
- população residente em áreas de vulnerabilidade urbana (recurso solo);
- incidência de inundações, desmoronamentos, etc. (recurso solo);
- taxa de criminalidade juvenil (recurso ambiente construído);
- despesas com saúde pública devido à incidência de enfermidades de veiculação hídrica (recurso água);
- custos de captação e tratamento de água (recurso água);
- despesas com obras de contenção e prevenção de riscos ambientais (recuso biodiversidade);
- despesas com recuperação de monumentos e/ou centros históricos (recurso meio ambiente construído);
- desvalorização imobiliária (recurso solo); perda de arrecadação fiscal (recurso solo);
- perda de atratividade urbana (recurso solo);
- porcentagem de áreas de instabilidade geológica ocupadas (comum aos recursos solo, água, biodiversidade, meio ambiente construído);
Indicadores de Resposta:
- plano diretor urbano (comum a todos os recursos);
- legislação de proteção a mananciais (recurso água);
- regulamentação e controle de emissões de fontes móveis e fixas (recurso ar);
- presença de atividades de Agenda 21 Local (comum a todos os recursos);
- educação ambiental (comum a todos os recursos);
- número de ONGs ambientalistas (comum a todos os recursos);
- tributação com base no princípio poluidor-pagador e/ou usuário pagador (recurso água);
- notificações preventivas e multas por violações das normas de disposição de resíduos (recurso solo);
- ligações domiciliares (comum a todos os recursos);
- total de áreas reabilitadas em relação ao total de áreas degradadas (recurso solo);
- investimentos em áreas verdes (comum a todos os recursos);
- investimentos em recuperação ambiental (comum a todos os recursos);
- investimentos em sistema de abastecimento de água e esgotos sanitários (comum ao recurso água);
- investimentos em gestão de resíduos (comum aos recursos água, solo e biodiversidade);
- investimentos em transporte público (comum a todos os recursos).
Fonte: SILVA, R.S.
et al. Potencialidade dos indicadores urbanísticos para a determinação da qualidade
de vida: abordagem do uso e ocupação do solo. IX Encontro Nacional da ECOECO.
Brasília-DF, outubro de 2011.